O Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra (UC) integra o novo projeto de investigação ‘BIOASSEMBLER – Integrando a montagem bio-inspirada na tecnologia de fabrico de semicondutores para biossensores’, que procura promover a integração das Ciências Sociais e Humanidade no desenvolvimento de tecnologias inovadoras no fabrico de microssensores e na transformação sustentável deste sector.
Ao integrar esta pesquisa financiado pela União Europeia (UE), o CES-UC irá liderar a avaliação social e económica destas inovações tecnológicas e o desenvolvimento de estratégias inovadoras para uma ligação entre a ciência e a sociedade, contribuindo para o avanço de políticas científicas e para uma sociedade mais informada.
Os sensores microelectromecânicos são hoje componentes essenciais em todos os sectores da vida, tais como os transportes, as telecomunicações e a eletrónica de consumo. São produzidos por tecnologia de sistemas microelectromecânicos (MEMS) na superfície de pastilhas de silicone (discos redondos finos com um diâmetro de 15, 20 ou 30 cm). Esta tecnologia é fantástica graças às suas muitas aplicações, mas envolve um grau de especialização que é difícil de atingir. A tecnologia MEMS requer investimentos em instalações de salas limpas altamente especializadas e dispendiosas, o que levou à concentração do negócio de fabrico de sensores num pequeno número de grandes empresas na indústria de semicondutores, muitas das quais a operar na Ásia. Além disso, a expansão de possíveis aplicações da tecnologia no campo da deteção de compostos bioativos (biosensing) ainda é dificultada pelas dificuldades de montagem de elementos bio-específicos em matrizes de sensores miniaturizadas capazes de detetar e identificar diferentes substâncias.
O BIOASSEMBLER propõe alterar este cenário. O seu objetivo é produzir uma nova geração de biossensores fabricados através de um processo biointeligente, aliando silicone e biomoléculas. Esta nova tecnologia permitirá aplicações importantes para os sensores MEMS, particularmente como biossensores, até aqui não disponíveis. Por exemplo, estes pequenos sensores de diagnóstico poderão medir marcadores moleculares de saúde e doença em pequenas gotículas de líquidos biológicos (tais como saliva, sangue e urina). Além disso, se estes biossensores tiverem a capacidade de medir vários analitos em paralelo (ou seja, de fazer uma deteção simultânea de várias substâncias) abre-se um grande conjunto de possibilidades, não só na auto-monitorização da saúde mas também em diferentes aplicações bioanalíticas, tais como nos cuidados de saúde profissionais, na alimentação e agricultura, na aplicação da lei (por exemplo, testes de drogas) ou na monitorização ambiental.
O CES irá assumir a responsabilidade de coordenar a comunicação do projeto e as tarefas relacionadas com as análises socioeconómicas dos impactos da nova tecnologia, investigando a adequação da nova tecnologia aos princípios da economia circular, na análise dos fatores que impulsionam a transformação dos processos de fabricação de microssensores e na compreensão das necessidades atuais e futuras de biossensores multiplex. Irá ainda implementar estratégias participativas e colaborativas para promover um envolvimento efetivo com a sociedade.
“Para além da inovação tecnológica, o BIOASSEMBLER inova também na ligação entre ciência e sociedade”, salienta Rita Campos, investigadora do CES que integra equipa. “O projeto prevê a produção de materiais de informação e educação que combinem arte e ciência, e a colaboração entre cientistas e diferentes atores sociais para melhor comunicar a investigação e os resultados alcançados”, acrescenta. “Este é um grande desafio, que permitirá à equipa portuguesa conhecer melhor o universo da inovação tecnológica na área dos microssensores e as oportunidades para a transformação sustentável do sector”, refere ainda Hugo Pinto, outro elemento da equipa do CES, notando também a oportunidade de estabelecer novas formas de diálogo entre disciplinas científicas, indústria, decisores políticos, utilizadores, educadores e criadores artísticos.
O consórcio começou a trabalhar em setembro deste ano e terá três anos para cumprir o seu principal objetivo: desenvolver uma tecnologia de montagem de inspiração biológica para o fabrico em escala de biossensores multiplex sem rótulo à base de silicone em plataformas de fabrico de semicondutores e, assim, conduzir a uma transformação sustentável dos sistemas de fabrico tradicionais na Europa.